O "cristão do amor" - um rascunho sobre a superficialidade do crente pós-moderno

02:18

Se você não for um, provavelmente já viu - ou vê todos os dias - este espécime que chamo de "cristão do amor".

Ele gosta muito de pregar o "amor". Ele também gosta de vestir sua áurea de santidade e dizer para todos nós que devemos amar os nossos inimigos e nos conclama, com lágrimas nos olhos e olhares condescendentes, a não julgar o próximo, afinal, Jesus disse para não julgar.

O "cristão do amor" é a favor dos pobres, e quando digo pobres, não estou me referindo aos "pobres de espírito" do sermão do Messias no monte. Não. Ele é a favor das pessoas de classe mais baixa mesmo pois, segundo ele, esta classe é oprimida pelo capitalismo hard core. Ele enxerga os pobres como alvos instantâneos da graça salvadora de Deus, porque os pobres são… bem… pobres. Eles não têm muita grana, logo, merecem o céu ou, no mínimo, uma versão do céu imanentizada na "igualde social".

O "cristão do amor" também acha que os negros, as mulheres, os índios, e os fãs de Justin Bieber são minorias, e endereça a eles, a todos eles, o seu mais profundo sentimento choroso e solidário. É claro, pois, para o "cristão do amor", eles pertencem a categorias desfavorecidas em incontáveis dimensões. Deus os ama muito e chora por eles. É o choro trinitário-ontológico-eletivo-social.

O "cristão do amor" curte bastante o lance do multicuturalismo. Ele repete mantricamente a propaganda de toda a mídia de que a pluralidade cultural do Brasil é linda, e, com um espírito quase nostálgico, se alegra às alturas ao ver um dos que ele chama de "minoria" cruzar o seu caminho à rigor. "A cultura é linda… ", ele pensa, "… e não importa quais sejam as suas expressões religiosas, costumes morais ou artísticos". A tônica desta linda e colorida melodia é, evidentemente, o amor.

O "cristão do amor" também é contra a redução da maioridade penal. Para ele, nada pode ser mais ultrajante, nojento, reacionário e anti-amor do que enviar crianças inocentes para a cadeia. Até porque, para o "cristão do amor", afeito àquela ética utilitarista, a cadeia não resolve o problema da criminalidade. E os menores transgressores, após o cumprimento da pena, voltam à sociedade como criminosos. "Você não está vendo que nós [a sociedade] estamos gerando mais violência ainda ao enviar jovens para a prisão?", questiona o "cristão do amor" com a mais profunda indignação e, ocultamente, emitindo votos para que seu interlocutor se converta a Cristo, que, segundo ele, é amor. Não é lindo? ❤

Finalmente, o "cristão do amor" é aquele que, ao evangelizar, diz: "Deus é amor!". E só! Pronto. O que mais é necessário?! O que pode ser mais importante do que dizer ao amigo descrente que Deus é amor? Enfatizar que o amigo é pecador e que, por isso, ele é alvo da justa ira de Deus, vai contra o ensino da graça, segundo compreende o "cristão do amor". Com efeito, nem que quizesse, o "cristão do amor" poderia dizer algo mais ao seu ouvinte dado que ele próprio, após anos de "conversão", nada mais estabeleceu teologicamente além do fato de que "Deus é amor". Talvez o "cristão do amor" até saiba encontrar o livro de Apocalipse na Bíblia, e, quem sabe, o de Rute. Certamente o "cristão do amor" sabe encontrar Jo 3.16. Mas todo o resto é virtualmente descartável e, em certa medida, teórico demais. O lance é amar!

A figura do "cristão do amor" é bastante conhecida e vemos muitos deles, todos os dias.

Só há um problema: o "cristão do amor" não é cristão!

O cristianismo NUNCA separa "amor" de "verdade". São conceitos mutuamente relacionados e, metafisicamente, indissociáveis. Sem a "verdade", sequer é possível esboçar uma DEFINIÇÃO de "amor". O "amor", sem a "verdade", se abriria para um campo semântico incontornável e, assim, poderia ser expresso e definido ao gosto particular de quem mutila a Escritura dessa forma - exatamente como faz o "cristão do amor".

A Bíblia diz:

"Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Efé 4:15).

Deus não quer que sigamos o "amor" como se fosse um sentimento ou algo que podemos definir eixegeticamente. Deus quer, antes, que sigamos a VERDADE, em amor. Jesus Cristo é amor, mas é também VERDADE (Jo 14.6). A primeira carta de Pedro diz que para que haja o tipo certo de amor, devemos antes obedecer à VERDADE (1Pe 1.22). Em João 1.17 lemos que a graça e a VERDADE vieram por meio de Jesus Cristo. Aliás, não é possível adorar a Deus sem uma rendição completa à VERDADE (João 4:24).

Outrossim, não é possível afirmar piedade ALGUMA sem a VERDADE. Jesus, em oração, clama:

"Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17).

Repare na gravidade destas palavras inspiradas! Elas nos dizem que NÃO IMPORTA o quanto e de que maneira exerçamos o que temos por "amor". Se este exercício não for orientado pela VERDADE, ele é falso e pernicioso. Ele não opera o amor, mas alguma outra coisa antropocentricamente esculpida.

Assim, fatalmente, este "cristão do amor", conforme fotografado, com todas essas convicções humanistas que o delineiam nestes contornos, NÃO pode ser chamado de cristão. Ele é uma FARSA e, como tal, deve ser desmascarado.

Neste ponto, você provavelmente está me achando um pouco dramático. Talvez até obtuso, principalmente se você for um "cristão do amor". Mas veja o que diz a Palavra de Deus, não minha:

"O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo" (1Jo 1:3).

Você percebe que só pode ser chamado de cristão, isto é, só pode ter comunhão com o corpo de Cristo e com o Deus triúno aqueles que adotam integralmente a VERDADE revelada? Isto, para Deus, é muito sério! Sério ao ponto de Deus estipular a pena capital, no Antigo Testamento, para quem pregasse a mentira (Dt 13.1-5).

Uma pessoa não é cristã somente porque fala de Jesus ou porque emprega um outro símbolo cristão em sua linguagem. E, certamente, o "cristão do amor", a despeito de todo o seu sentimentalismo tolo, pressupostos humanistas, achismos estúpidos e pseudo-caridade, não é, de fato, cristão. Ele NÃO segue ao Senhor Jesus, NÃO se deleita em Seus mandamentos, NÃO adota a Palavra como guia e princípio de conhecimento e NÃO ama ninguém, afinal, ele ainda não aprendeu o que é amar e que o amor só pode ser materializado na VERDADE!

O cristão do amor é um monumento à pós-modernidade com toda a sua incoerência cancerígena e detrimento da razão em favor de um sentimentalismo babaca e vazio.


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3 comentários

  1. Muito bom ! Esse suposto cristão se acha o mais santo de todos. Parece ter um prazer erótico em ser tão bonzinho . É uma pena pois ele criou um deus a sua imagem e semelhança e tomou um caminho à esquerda .

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  2. É Ossani… você disse bem com "suposto". O "cristão do amor" tem aversão ao dogma e à verdade, logo, nem é cristão e nem ama nada.

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  3. Lendo esse artigo, não tem como não lembrar em uma pregação cujo o tema:pecadores na mão de um DEUS irado.

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